o dia em que o tédio acabou

Era uma vez um Tédio que vivia sozinho numa floresta deserta, abandonada, em que as árvores não falavam e as flores murchavam. Ninguém dizia nada, ninguém havia...
Então o Tédio resolveu partir à aventura e tentar sair daquela amargura, daquele tédio... Foi pela floresta deserta e silenciosa fora, foi, foi, foi... só, cansado, triste, chateado, pois continuava tudo na mesma... Que tédio!!!! Até que cansado e entediado – não fosse ele o Tédio – resolveu parar para descansar um bocadinho e acabou por adormecer.
Foi então que algo diferente aconteceu.... começou a ouvir ruídos, barulhos, sons estranhos e estridentes, mas que o faziam sentir sensações diferentes de tudo o que estava habituado. Os ruídos, ao longe, foram-se aproximando cada vez mais e mais e foram ficando cada vez mais intensos e cada vez mais o que o Tédio sentia se ia tornando diferente. O Tédio já não parecia o Tédio pois estava...estava...excitado! Emocionado! Aqueles ruídos faziam-no sentir emoções.
Com o aproximar dos ruídos, começou a avistar uns seres pequeninos que continuavam a emitir aqueles sonzinhos. Os seres eram engraçados e pareciam muito diferentes do Tédio. Chegaram, então, perto dele e ...
... silêncio ...
Oh! Não! Outra vez aquele silêncio entediante...
Até que um dos serezinhos disse qualquer coisa: “Olá! Quem és tu?” . O Tédio voltou a sentir-se agradavelmente estranho e respondeu:
“Sou o Tédio. E vocês, o que são?” E ouviu em coro desafinado “Meninos!!!”
“O que é Tédio?”, perguntou o serezinho. “Sou eu! E sou farto de mim mesmo! O que são Meninos?”
E os Meninos foram explicando: “ Somos nós!” “ Somos pequeninos.”
“ Brincamos muito.” “Rimos, rimos muito.” “Sim, sim, rir, rir de tudo... “ “Também comemos e dormimos e ... choramos...” O Tédio interrompeu-o imediatamente: “O que é rir?” E o serezinho começou a saltitar e a dizer: “ É o que estávamos a fazer... Ah! Ah! Ah! Hi! Hi! Hi! Oh! Oh! Oh!” e continuaram todos a rir e aquele riso foi aumentando, assim como o som, até que o Tédio começou a transformar-se e a emitir também aqueles ruídos estranhos a que os Meninos chamavam “Rir” e que o faziam sentir-se bem, cada vez melhor. Riu-se, riu-se muito: “ Ah! Ah! Ah! Oh! Oh! Oh! Hi! Hi! Hi! Eh! Eh! Eh!... Isto é muito diferente... Ah! Ah! Ah! ... isto não é chato, nem silencioso, Hi! Hi! Hi! nem aborrecido... Oh! Oh! Oh! nem tédio...”
“É DIVERTIDO!!! É engraçado, giro... é bom... é rir! Muito! Rir muito! Anda, vem rir e brincar connosco.”
E lá foi o Tédio, que deixara de o ser. Agora que encontrara aqueles serezinhos Meninos que riam muito e eram divertidos.

Onde há Meninos não há Tédio que resista.

Elisabete Maria Ferreira Viana